Revista Hellinger, Março 2006.
Tradução de Patricia Sánchez
Que torna os homens felizes?
Que me faz feliz? E como ser feliz?
Quando me entrego a todos da mesma forma. Entregar-se a todos não significa amar todos de maneira emocional, senão dirigir-se a todos com respeito e animado por um amor espiritual. Isso significa entregar-se a todos participando de um movimento de criação que está Trabalhando detrás de tudo, que se dirige a tudo da mesma maneira.
Não é possível considerá-lo de outra forma.
Quando excluo alguém da minha atenção benevolente, perco a felicidade. Como pode um ser humano excluir outro? Somente é possível quando se sente superior.
Todos aqueles que se sentem melhores que os outros, excluem alguém. Todos aqueles que julgam de maneira negativa alguém ou o condenam, o excluem. Esta arrogância deriva da moral.
Se o pensarmos bem, esta arrogância chega tão longe que, em nome da moral, aqueles que se sentem superiores dizem para os outros: "este tem direito a viver, este outro não".
Não é monstruosa a pretensão que se oculta detrás esta moral? No entanto, as pessoas moralizadoras não são felizes, certeza que não!
A felicidade deriva desta disponibilidade para com os outros. Esta "disponibilidade" é um trabalho e uma qualidade de toda uma vida. No fundo, não á nada mais que "benevolência" para cada um.
Sintam um pouco o que acontece em vocês quando atuam na benevolência. Talvez tenham algo contra alguém. Agora olhem para essa pessoa e digam-lhe: “desejo-lhe o melhor – desde todos os pontos de vista".
Leio no rosto de alguns daqueles que estão aqui que se sentem mais felizes!
A “benevolência” nos torna feliz; a "malevolência", pelo contrário, nos torna infeliz, não somente a outras pessoas senão também a nós mesmos.
Podemos observar e renovar esta benevolência com nós mesmos. Eu observo frequentemente esta benevolência em mim.
Comprovei que quando caio na agitação ou no ciúme, já não estou unido com minha alma nem com meu coração.
Vocês também podem senti-lo imediatamente. Então, de noite me sento – senão posso fazê-lo hoje de noite o farei, como muito tarde, amanhã pela manhã – e me pergunto: "a quem neguei minha benevolência?”.
E, de repente, aparecem essas pessoas diante de mim internamente e giro-me novamente para elas, simplesmente com benevolência. Com benevolência, sem julgar, simplesmente benevolente. Assim, sinto-me calmo novamente.
Esta é outra maneira de ser feliz, pelo caminho da Benevolência.
O momento presente
Agora, gostaria de dizer algo mais sobre a felicidade.
Qual é o segredo da felicidade? Onde a felicidade encontra sua plenitude?
No momento presente.
A felicidade está toda no momento presente.
E que se opõe à felicidade? O fato de se afastar do momento presente. Já seja porque olhamos para trás ou porque olhamos para frente.
Assim, esquecemos o momento presente.
E, ao mesmo tempo, esquecemos a felicidade do momento. Estar presente em cada momento é uma disciplina elevada para a qual podemos treinar-nos.
Fechem os olhos. A vida toda está somente no momento presente. Em cada momento, a vida está lá em toda sua plenitude. Em cada momento, agora, está a plenitude da vida.
Então, abrimos nosso coração para este momento, ficamos contentes por este momento, agradecemos este momento.
Aqui não há nostalgia nem tampouco medo. Todo o medo é estabelecido no futuro. Toda nostalgia pertence ao passado. Neste momento, não lamentamos nem tememos nada.
Por que as crianças são tão felizes?
Porque somente vivem o momento presente!
O trabalho
Um homem: Trata-se do trabalho.
Hellinger: O problema do trabalho é fácil resolver. (Hellinger coloca primeiro o homem e depois um representante para o trabalho, em frente dele. O trabalho dá um passo para trás e gira-se).
Hellinger: Não é estranho que não tenha trabalho. O trabalho não gosta de você! Está contra você porque não o respeita. O trabalho foge de você. Mas não é sua culpa. Agora, quem era o trabalho?
O homem: Qualquer coisa com a qual não estou unido e por isso estou sem motivação.
Hellinger: quem representa o trabalho aqui? Sua mãe! Sem mãe, não há trabalho - que fez houve com sua mãe?
O homem: Neste momento, sinto que se afastou de mim.
Hellinger: Minha pergunta era muito concreta.
O homem: Fui embora.
Hellinger: Que significa isso?
O homem: Tenho pouco contato com ela. Afastei-me dela.
Hellinger: Que lhe aconteceu realmente?
O homem: Afastei-me claramente dela.
Hellinger para o grupo: Acho que continuará desempregado. Não há nada que fazer! Sem mãe não há trabalho. Aquele que se afasta da sua mãe, afasta-se do trabalho – e o trabalho afasta-se dele.
Hellinger para o homem: Você lhe fez algo e isso a machucou.
Fechem os olhos.
(O homem cobre o rosto com suas mãos e começa a chorar compulsivamente).
Hellinger (depois de um tempo): sua mãe ainda é viva?
O homem: Sim. Meu pai já morreu.
Hellinger: Então, ainda tem uma oportunidade. Agora, entrou em contato com ela, está bem, é bonito, muito bonito.
Vou fazer-lhe algumas sugestões concretas.
Escreva-lhe uma carta. Recorra sua infância a partir do seu nascimento e observe tudo o que fez por você durante todo esse tempo. Escreva-lhe isso, diga-lhe que o leva no seu coração. Tudo o que lhe deu, tome-o no seu coração.
(O homem assente abaixando a cabeça).
Hellinger: Exatamente!
No final, diga-lhe algo mais: se alguma vez precisar de mim, estarei aqui para você.
(O homem está muito comovido).
Hellinger: Agora, encontrará um emprego muito rápido.
(Ambos dão gargalhadas).
Hellinger para o grupo: Agora é feliz. É bonito. Não há dúvida, as mães nos fazem felizes.
Hellinger para o homem: Bom, pararei por aqui.
Tomar por completo os Pais
Hellinger para o grupo: Gostaria de dizer algo mais neste contexto.
Frequentemente, olhamos para nossa mãe e para nosso pai e pensamos: havia algo que não funcionava. Não eram perfeitos. Temos expectativas muito estranhas para nossos pais, como se devessem ser como Deus. Não exatamente, evidentemente ainda um pouco melhor.
É terrível o que fazemos com nossos pais com tais expectativas. Depois achamos que temos o direito de tomar satisfação com eles por isso, porque não eram como Deus.
Crescemos e tornamo-nos capazes de desenvolver-nos na vida porque eram normais, com defeitos, quase com os mesmos que nós temos.
Agora, acabo de ter uma estranha experiência interna.
Antes contei como tinha aumentado tanto meu sentimento fundamental. Tomei minha mãe em meu coração, tomei-a totalmente.
O surpreendente é que tudo aquilo que pensava poder cobrar-lhe – dizer-lhe: "deveria ter feito isso melhor" – tudo isso ficou fora (como na porta).
Curiosamente, quando tomamos nosso pai e nossa mãe tal como são em nosso coração, continuarão totalmente em nosso coração sem aquilo que nos fazia ter objeções, fosse o que for.
É uma bonita experiência. Também ajudará poder falar assim.
A reconciliação
Esta reflexão vem depois da Constelação de um homem, cujo avô tinha levado um transporte de prisioneiros a um campo de concentração. No fim da guerra, o avô deste homem morreu nesse mesmo trem durante um ataque aéreo.
Os perpetradores somente podem descansar do lado das suas vítimas. Porém, não podem ir para suas vítimas, a não ser que elas lhes proporcionem um lugar. Aqui, conseguimos ver o difícil que é para as vítimas.
Uma das vítimas permitiu que o perpetrador tivesse contato com ela. Depois ficaram em paz entre eles. A representante desta vítima convidou com o olhar aqueles que ainda não tinham se reconciliado. Que ela tivesse deixado um lugar ao seu lado para o perpetrador não convinha às vítimas. Para quem isto é grave?
É grave para as vítimas que se negam a deixar um lugar para o perpetrador.
Depois, acrescentou um representante para a Alemanha. Frequentemente, existe outro obstáculo para a reconciliação entre perpetradores e vítimas. A Alemanha, ou mais bem, os alemães!
Referente a isto, gostaria de realizar um pequeno exercício com vocês.
"Reconheço que sou como vocês"
Fechem os olhos e sintam interiormente que pertencem inevitavelmente a este campo espiritual que é a Alemanha.
Neste campo estão presentes os perpetradores, as vítimas e todos aqueles que eram entusiastas. E todos estão nesse mesmo campo, da mesma maneira.
Expomo-nos a eles, tanto aos entusiastas como aos que pretendiam não saber nada e também aos que se distanciavam de tudo isso como se não pertencessem a esse campo.
E expomo-nos aos perpetradores, aos soldados e ás vítimas de qualquer dos lados.
Expomo-nos aos perpetradores, porém também – por assim dizê-lo– abandonamo-nos a eles, abertos a tudo e compartilhamos seu sentimento, exatamente como eles; e dizemos-lhes:
"Reconheço que sou como vocês, sem distinção. Com humildade e amor, honro sua lembrança em minha alma. Reúnem-se em meu coração com o sofrimento e a culpabilidade, com tudo tal como aconteceu".
Depois, olhamos além, para algo maior, além do Tudo, ao que todos pertencem da mesma maneira e ao que foram entregues da mesma maneira e onde todos estão em boas mãos da mesma maneira.
Diante desta força nos detemos imóveis, com recolhimento, sem perguntas, simplesmente assim.
Felicidade e Desgraça
No momento em que uma pessoa deixa em paz aquelas do passado e não carrega mais o que lhes pertencia, estas estarão também em paz e poderão seguir seu próprio caminho. Portanto, é grave que algumas pessoas pensem depois que deveriam fazer ainda algo por estes mortos.
Como por exemplo: vingá-los ou encargar-se de determinadas coisas no seu lugar, ou compensar. Desta maneira, envolvem-se em situações que não lhes concernem.
Esta é também uma das causas que leva à desgraça e nos torna infelizes.
Seria necessário talvez explicar um pouco mais sobre o que se está realizando em segundo plano?
A felicidade da pertença
Uma das minhas tomas de consciência fundamental, refere-se ao funcionamento da consciência.
Por assim dizê-lo, peguei a consciência do céu para trazê-la para a terra.
De repente, percebi que a consciência é um instinto e não algo espiritual.
Um cachorro também tem consciência!
Observaram que, ás vezes, um cachorro pode ter má consciência? Portanto, a consciência é um tipo de instinto. Somente a encontramos nas matilhas, nos rebanhos.
Quando um membro da manada faz algo pelo qual poderia ser excluído, tem má consciência. Então, mudará seu comportamento para poder fazer parte, de novo, do grupo.
E agora, se traspormos isso aos homens, isto é o que acontece.
A consciência une-nos com um grupo que é importante para nossa sobrevivência, porém também nos une com os outros grupos com os quais desejamos nos relacionar.
A consciência é um órgão de percepção instintivo. Podemos compará-la com o sentido do equilíbrio. O sentido do equilíbrio também é um órgão de percepção instintivo com o qual podemos constatar rapidamente se estamos em equilíbrio ou não. Da mesma maneira, mediante a consciência, podemos perceber se ainda temos direito de pertencer ao nosso sistema ou não.
Quando fazemos algo que poderia nos excluir, temos má consciência. Então, mudaremos de comportamento para poder pertencer novamente ao nosso clã.
E se temos permissão para pertencer, nos sentiremos felizes e inocentes. No fundo, a maior nostalgia do homem é: sua pertença.
Esta é o motivo pelo qual não há maior desgraça que a de estar excluído. E como castigamos os criminais?
Excluindo-os evidentemente!
Prendemo-los ou matamo-los.
A exclusão é o pior que existir.
O maior bem é a pertença. E com a ajuda da nossa consciência, sabemos o que está bem para nós e para o grupo e o que está mal para nós e para o grupo.
A felicidade cega
Explicarei isto um pouco mais detalhadamente.
Para pertencer ao seu sistema, uma criança é capaz de tudo. A pertença é mais importante para ela que sua própria felicidade e sua própria vida.
Muitas pessoas sacrificam sua vida por esta pertença.
Por exemplo: os soldados.
Muitas pessoas comprometidas com as outras, estão dispostas a sacrificar sua vida pela comunidade - como elas dizem! Mas, de fato, trata-se de pertença. E como as honraremos especialmente? Quando tenham feito algo pelo seu grupo colocando em perigo sua vida.
Às vezes, em nome da pertença, uma pessoa fala interiormente certas frases como, por exemplo, diz para a sua mãe morta ou para seu pai morto ou para um irmão ou para uma irmã morta: “sigo você".
Então, pode ser que adoeça ou que deseje morrer em seu lugar. Podemos observá-lo com a anorexia por exemplo.
Uma criança anoréxica diz no seu coração: "prefiro desaparecer antes que vê-lo desaparecer". Para quem diz isso? Para seu querido papai. É o que diz geralmente. Na maioria das vezes, faz isso pelo seu pai. É amor e este amor deriva da consciência.
Quando essas crianças ou adultos morrem, todos têm: "boa consciência".
Sentem-se inocentes e também felizes!...
Meu Deus, que felicidade! E que tristeza para aquele para quem dizem: "melhor eu que você"!
Como se sente o pai para o qual sua filha diz interiormente: "morro no seu lugar"?
Esta dinâmica deriva da consciência, tornando-nos felizes e inocentes por um lado e, por outro, opondo-se à vida. Portanto, não está em acordo com a vida. Porém a Grande Felicidade está em harmonia com a vida.