Observações de Bert Hellinger referente aos debates públicos sobre as vítimas, os perpetradores e seus representantes, 2006.
Aquele que se indigna diante de algo difícil, talvez trágico, parece colocar-se do lado do bom e contra o ruim, do lado do justo e contra o injusto.
Interfere entre perpetrador e vítima para impedir mais mal, não obstante, poderia fazê-lo com amor e, certamente, de modo mais apropriado.
Na realidade, o que procura aquele que se indigna? E, que faz na realidade?
Sem sê-lo de fato, aquele que se indigna se comporta como se fosse uma vítima.
Outorga-se o direito de obrigar o perpetrador a pagar, sem que a ele lhe tenha acontecido nada.
E transforma-se no defensor das vítimas como se estas lhe houvessem pedido representá-las.
Portanto, lhes tira seus direitos.
E, que faz o indignado com estas pretensões?
Toma a liberdade de fazer mal ao perpetrador sem medo de sofrer represálias pessoais dolorosas. Já que seus atos parecem estar do lado do bem, não precisa ter medo de um castigo.
Para justificar a indignação, o indignado dramatiza tanto a injustiça sofrida como os efeitos da culpa. Obriga as vítimas a que considerem a injustiça com a mesma severidade que ele. Caso contrário, as enfocará como suspeitas e quase as verá como causa da sua indignação, elas, de repente, serão culpadas.
Na presença da indignação, é difícil que as vítimas renunciem a sua dor e os perpetradores assumam e reparem sua culpa.
Se deixássemos que as vítimas e os perpetradores juntos procurassem uma reparação e uma reconciliação, provavelmente o conseguirão. Mas, diante de um indignado é difícil que isto aconteça; as pessoas indignadas, geralmente, não ficam em paz enquanto não tenham destruído e humilhado o culpado, mesmo que seja a custa das vítimas.
A indignação é em primeiro lugar uma atitude moral. Isto significa que não se trata de ajudar ninguém, senão de impor uma reivindicação na qual o indignado se sente e se vê como o executor. Portanto, ao contrário daquele que sente amor, ele não conhece nem compaixão nem medida.