Revista Hellinger Sciencia, Dezembro de 2007
Vou fazer com vocês algumas meditações para treinarmos uma visão a partir do espírito. Proponho que olhemos para nossos pais a partir desta perspectiva. É algo muito diferente do que, talvez, costumamos fazer. Vamos começar, então.
Vocês podem fechar os olhos, se quiserem.
Proponho que olhemos para a nossa mãe, assim como é, exatamente como ela é. Só desta forma, ela é nossa mãe. Mas, ela é realmente a “nossa” mãe? Tenho, acaso, o direito de dizer “minha mãe”, como se ela fosse minha propriedade? Ou talvez ela me tenha sido presenteada por outra força, que a tomou a seu serviço, tal como ela é? É assim como foi escolhida para ser minha mãe. Somente assim, tal como é, ela pode ser realmente minha mãe e, só assim, pode chegar a ser como o espírito deseja. Seu destino e meu destino estão inseparavelmente unidos.
Enquanto a olho tal como é, olho também para além dela, para algo maior. Olho para mais além, para seus pais, aqueles que foram destinados a ela, assim como eram, exatamente assim. Ninguém poderia ser diferente do que foi, porque o espírito, de acordo com seu movimento, concebeu e guiou cada um tal como foi. Atrás dos pais dela estão seus pais e inúmeras gerações. Todos eles foram movidos pelo espírito, todos tiveram um destino que se originou de um movimento deste espírito, todos foram tomados a seu serviço, desde o princípio até mim. Estou vinculado a todos eles, pelo espírito e seu movimento.
Por cima de todos eles, olho para muito longe, para o infinito que move tudo assim como é, e que aceita tudo assim como é e me aceita tal como sou, com minha mãe tal como é.
Então, abro meu coração totalmente. Olho para minha mãe e a tomo em mim, como um presente deste espírito eterno, a tomo assim como é e lhe digo: “Obrigado”. Olhando para todas as gerações atrás dela, digo também: “Obrigado”. Olho para ainda mais além do infinito, recolhido e dedicado, frente ao que permanece oculto. E digo: “Sim, me entrego a você com todos os que estão comigo. Juntos, estamos a seu serviço. Obrigado”.
Permaneço neste vínculo com amor, com respeito a todos, com a consciência de ocupar o último lugar. E a partir deste lugar, olho para frente. Sinto meus antepassados atrás de mim, e esta força por trás de todos nós. Dou ainda mais do que me foi confiado e presenteado. Dou ainda mais com respeito e amor, em harmonia com todos os que vieram antes de mim, em harmonia com o movimento do espírito.
Da mesma maneira, olho para o meu pai tal como ele é, com o destino que teve, com tudo o que fez. Olho para ele e o vejo tal como era e tal como é agora. É assim que corresponde ao meu destino. Graças a ele, eu pude crescer. Sou como sou, porque ele é como é. Olho, também, por cima dele, para seus pais. Eles foram como puderam ser, somente assim. E porque eles eram assim, eram os corretos para meu pai. Mais além deles, olho para seus destinos, para seus pais e para as gerações sem fim. Todos estavam a serviço desse espírito, assim como eram, precisamente assim.
São eles que me correspondem, tal como são. Coloco-me na linhagem com eles, abaixo, no último lugar. E sei que dou além do que recebi deles. Tomo o meu lugar numa cadeia ininterrupta de gerações, sabendo que sou movido igual a eles, por algo infinito.
Olho para meu pai e abro meu coração. O tomo em mim tal como ele é, tal como me é dado, o correto para mim.
Quando olhamos para nossos pais desta forma, com um amor do espírito, com um amor além do sentimento, harmonizado com um movimento do espírito, vemos, também, o que eles nos deram com tanto carinho paternal durante tantos anos. É incrível o que os nossos pais nos deram, de acordo com este movimento! Aceitamos tudo como foi, sem pôr nem tirar, inclusive as supostas dificuldades, a dor e os desafios. A forma como eles se comportaram foi criada assim por esse espírito. Eles foram movidos assim por ele, para nós.
De que serve, então, o resto, nosso desejo de ser, talvez, superiores a eles, de lhes fazer recriminações e apresentar-lhes queixas?
O que fazemos, então, frente a este espírito? O que acontece conosco quando nos atrevemos a desejar que eles fossem diferentes do que foram? Ainda estamos no amor para eles, como são? No amor para os pais deles, assim como eram? No amor para seu destino tal como foi?
Vamos nos perguntar se ainda estamos no amor para todos os que vieram antes deles e cuja vida, com suas experiências e sofrimentos, nos beneficiam em um movimento comum, que abarca a todos com igualdade e onde todos se encontram ainda presentes.