Der Austausch, Bert HELLINGER, 2002.
Assuntos tratados
As próximas linhas resumem os últimos conhecimentos sobre o desenvolvimento da consciência, tanto da consciência coletiva inconsciente como da consciência pessoal. Descrevem, além disso, a maneira na qual, através da constelação familiar, podem ser superados os limites de dita consciência, quando ela nos leva a algum conflito. Já que, na constelação familiar será mostrado como, se conseguirmos traspassar estes limites, surgirão os movimentos profundos que nos capacitarão para reconciliar em um nível mais alto o que anteriormente se opunha.
Para entender a constelação familiar, e compreender seu contexto, é importante tratar aquilo que atua em uma família ou em um grupo como, por exemplo, sua alma comum ou sua alma de família ou grupo.
Tentarei fazer um esboço sobre as funções das características que a alma de grupo tinha originariamente e que, evidentemente, ainda tem, e direi algo sobre as ordens que ressaltam esta alma no grupo. Apresento este esboço sem verificar se isso corresponde realmente ao desenvolvimento histórico, já que meu objetivo não é reunir provas históricas, senão permitir através dele a ação no presente. Trata-se de elevar à consciência os impulsos incompreensíveis até este momento, frequentemente de natureza trágica, e de lá encontrar caminhos que nos ajudem a resolver ou prevenir tais intrincações trágicas.
O grupo originário era uma horda de uns vinte a trinta membros, cujos integrantes dependiam uns dos outros na vida e na morte. Ninguém podia abandonar a horda sem se perder. Era também inimaginável que um membro fosse excluído, exceto talvez, se tivesse matado outro membro. Encontramos um eco disso na Bíblia, no relato de Cain e Abel.
Regiam nesse grupo duas ordens fundamentais. Em primeiro lugar, cada membro tinha o mesmo direito de pertença, e era impensável que alguém negasse ao outro esse direito. Porém, ao mesmo tempo, cada membro sabia que o bem do grupo tinha prioridade sobre as necessidades pessoais. Esse era o motivo pelo qual em uma horda nômada os velhos e os doentes ficavam para trás no momento em que se transformavam em uma carga para o grupo. Estavam dispostos a morrer e ninguém se interpunha neste caminho, fosse qual fosse o motivo, nem sequer pelo carinho pessoal.
Hoje, isto ainda rege entre certos grupos, e podemos observá-lo em um acontecimento que me contou um médico que estava em um hospital da Tanzânia. Um dia, alguns homens da tribo Masai trouxeram em umas macas um homem jovem ferido em uma perna. Quando o Diretor do hospital o visitou percebeu que a gangrena estava muito avançada, que já não era possível salvar a perna. Chamou os homens e explicou-lhes que tinha que amputar a perna do jovem, já que, caso contrário, morreria. Os homens falaram que primeiro tinham que conversar entre eles. Voltaram depois de uma hora e lhe informaram: “decidimos que morra”.
Pelo mesmo motivo, aquelas hordas abandonavam as crianças fracas ou descapacitadas. Também neste caso, a sobrevivência do grupo tinha prioridade sobre a compaixão pessoal. Essas hordas eram cruéis? Conheciam seus limites e os aceitavam. De maneira que, o direito de pertença encontrava seus limites no bem comum. Isto é, que tudo servia à sobrevivência e continuidade do grupo como conjunto.
A segunda ordem, em esses grupos, garantia a precedência dos membros anteriores ou mais velhos sobre os posteriores ou mais jovens. Graças a isso, cada um tinha seu lugar, do qual se movia por si mesmo, no curso do tempo, de um lugar baixo para outro mais elevado. Assim, nesse grupo tampouco havia conflitos em relação ao rango.
Estas ordens, de direito à igualdade de pertença e à hierarquia de acordo com o tempo de pertença, não surgiam, entretanto, das reflexões racionais. Foram estabelecidas por uma consciência coletiva, de modo que qualquer rompimento desta ordem levava a um mal-estar com sentimento de culpa, que fazia o indivíduo retornar ao reconhecimento de ditas ordens. Chamo esta consciência de coletiva, em contraposição à consciência pessoal, da qual falarei mais adiante. Dita consciência coletiva, que também poderia ser chamada consciência de grupo ou consciência familiar, é inconsciente atualmente. Dentro do grupo arcaico ou horda, não obstante, deve ter sido consciente, pelo menos na medida em que levava seus membros aos sentimentos de culpa, e quando a culpa era reconhecida e reparada, também aos sentimentos de inocência.
Ao mesmo tempo, no encontro com outros grupos também se produzia necessariamente a diferenciação entre “nós e os outros”, entre “pertencente e não pertencente”; e com isso, além do mais, entre “bom e melhor” e entre “menos bom ou mal”. Posteriormente, esta diferenciação transladou-se aos relacionamentos dos indivíduos dentro do grupo, no sentido de “eu sou melhor do que você”, “eu tenho mais direito a pertencer do que você”, e com isso à diferenciação entre bom e ruim, também no sentido moral. Diante dessa tela de fundo, desenvolveu-se a consciência pessoal, que percebemos como boa ou má consciência, unida ao sentimento de inocência ou de culpa pessoal. Esta consciência também delimita agora os membros do grupo e conduz ao desenvolvimento da consciência individual. Também, à oposição de pessoa e comunidade, e de liberdade ou autodeterminação, diante das normas e exigências do grupo.
No transcurso deste desenvolvimento, as normas e ordens da consciência coletiva foram reprimidas no inconsciente, de modo que já não poderiam tornar-se vigentes de forma imediata, como boa ou má consciência. Assim como o indivíduo colocou-se em grande medida no lugar do grupo, também a consciência pessoal ocupou amplamente o lugar da consciência coletiva. Isto chegou ao ponto no qual a voz da consciência pessoal foi entendida como a voz de Deus no indivíduo, dando-lhe o direito de decidir também contra o grupo. Desta forma, levou-se ao extremo a separação do grupo e da sua correspondente consciência coletiva. Porém, mesmo assim, a consciência coletiva não foi superada; e é mais, não seria normal superá-la, já que continua e deve continuar sendo o fundamento da convivência humana. Por muito alto e longe que uma árvore leve seu tronco e suas ramas, sem as raízes se afundaria. No entanto, isso não significa que devamos questionar o que foi alcançado através da consciência pessoal. Somente devemos voltar a ser consciente das suas raízes e deixar-nos levar novamente, nutrir-nos e limitar-nos por elas.
Que significa isto para a constelação familiar? Na constelação familiar coloca-se a descoberto e fazem-se visíveis como tais as diferentes formas de atuação da consciência coletiva e da pessoal. Isto significa, no primeiro caso, que se evidenciam as consequências amenizadoras e perigosas resultantes de reprimir e negar as ordens da consciência coletiva. Entre estas consequências estão incluídos desde o fracasso, apesar da melhor intenção, até as doenças mortais, acidentes graves, criminalidade e suicídio. Estas consequências remitem às ordens previamente passadas por alto ou lesionadas.
Disso resulta também o conhecimento de como poderíamos evitá-las no futuro. Assim, observamos que a consciência pessoal lida, do seu jeito, com as questões conectoras da consciência coletiva, porém sem ter sucesso, já que ignora a segunda ordem da consciência coletiva; a saber: o rango conforme o tempo. Por trás das frases, por exemplo, “o sigo” e “o aceito por você”, e detrás da ideia de poder sacrificar-se pelos outros, atua esse eixo da consciência coletiva, conforme o qual o conjunto tem prioridade sobre as necessidades pessoais do indivíduo. No entanto, o indivíduo que atua pelo impulso destas frases e desta ideia contravém a ordem de prelação dos mais velhos e anteriores sobre os posteriores e mais jovens, e assim a consciência coletiva fará, portanto, que fracasse em todos seus esforços. Isto é, a constelação familiar permitirá apreciar a tela de fundo dos destinos trágicos e conseguirá sua mudança para melhor para todos. Dará novamente vigência às ordens da consciência coletiva, mas sem renunciar as conquistas da consciência pessoal.
Pelo contrário, une ambas em um nível superior que permite que o indivíduo se integre, além dos limites estreitos do seu grupo, em um conjunto maior que elimina as diferenças entre pessoas e grupos singulares, já que podem superar o que separa sem sacrificar o que lhes é próprio. Neste sentido, a constelação familiar serve, especialmente, para a reconciliação.
Tudo isto significa, também, que somente poderá oferecer a constelação familiar quem compreendeu, interiorizou e reconheceu as leis da consciência pessoal e coletiva e que, ao mesmo tempo, as concilia entre si em um nível superior. Deste modo, cumpre-se a questão básica da consciência coletiva, mesmo que provavelmente muito além dos limites imaginários. Manter unido, a serviço de algo Maior, o que deve estar junto, e que esse algo Maior permita ao indivíduo crescer além de si mesmo, e lhe outorgue sua maior possibilidade de realização pessoal.
Ás vezes, nós nos sentimos impulsionados a fazer algo e não sabemos o motivo. E, não obstante, o impulso é tão forte que não podemos resisti-lo. Se cedermos a esse impulso, frequentemente, advertiremos, posteriormente, que somente assim teria siso possível alcançar algo importante ou evitar algo grave.
Seguimos um movimento da alma que nos conduziu, protegeu e guiou sabiamente. Isto é, a alma sabe mais do que nosso eu. Vê o futuro que nos aguarda, assume a direção em momentos decisivos e, desta maneira, manifesta-se superior e anteposta a nossa planificação, determinada sempre por desejos e reflexões.
Como se mostra a alma? Para perceber seu movimento devemos aprender a diferenciá-lo dos impulsos da nossa consciência, como dos da consciência pessoal. O que sentimos, como daqueles da consciência coletiva inconsciente, que somente os diferenciamos pelos seus efeitos.
O que vivenciamos como nossa consciência pessoal tem uma função múltipla. Serve para o enlace com a família e com os grupos que nos importam, porém, serve também para o equilíbrio e a ordem dentro dessa família e do resto dos relacionamentos significativos. Para alcançar esses objetivos, esta consciência nos guia através de sentimentos de desagrado e prazer. Percebemos o desagrado como culpa e o prazer como inocência. No entanto, para cada um dos âmbitos descritos, a culpa e a inocência são percebidas de forma diferente.
No caso da conexão grupal, a culpa é vivenciada como medo pela perda da pertença, e a inocência como alegria por ter certeza dessa pertença e de fazer parte dela. A consciência percebe instintivamente todo o perigo em nossos relacionamentos e tenta manter ou restabelecer a ordem, através de uma pressão que se corresponde com a magnitude do fato.
O bom, no sentido da consciência pessoal, é, portanto, tudo o que serve os relacionamentos, e o ruim é o que coloca em perigo ou anula esses relacionamentos. Todas as honras e elogios que um grupo oferece a algum dos seus membros não são, no fundo, mais que asseverações de pertença. Todos os méritos que alguém adquire em um grupo são como um capital cujos benefícios consistem no direito especial da pertença.
A culpa a serviço da compensação ou do equilíbrio é sentida como uma obrigação, quando recebemos algo dos outros sem devolver-lhes algo equivalente. A inocência se vivencia, neste caso, como liberação se for devolvido ao outro algo equivalente, e como exigência se for dado mais do que tomamos.
Relacionada com a necessidade de pertença, a necessidade de equilíbrio provoca um intercâmbio incrementado. Para aquele que a pertença à outra pessoa for uma necessidade, estará dando algo melhor do que obteve. Por esse motivo, obriga a outra pessoa a lhe devolver também algo melhor. Desse modo, aumentará entre eles o intercâmbio de dar e tomar e, ao mesmo tempo, o vínculo entre ambos se tornará mais profundo.
Esta necessidade de compensação atua tanto no bom como no ruim. Se alguém nos fez um mal, nos sentimos com direito a lhe fazer também algo ruim. Porém, como nos sentirmos com direito, pode acontecer que lhe façamos um mal maior do que o recebido, e assim ele também se sentirá com direito a nos fazer outro mal ainda pior. Desta forma, se incrementará o intercâmbio no ruim e isso, finalmente, colocará em perigo o vínculo ou, inclusive, o eliminará.
É necessário acrescentar que a consciência zela pela manutenção das regras do jogo e da ordem legal, entre os membros de um grupo, também neste caso com sentimentos de inocência e culpa. A inocência se vivencia, nesta circunstância, como escrupulosidade e a culpa como medo do castigo.
As três necessidades de vinculação, equilíbrio e ordem somente servem nossos relacionamentos se atuam em conjunto, e nenhuma se impõe à custa das outras. Isto é, o vínculo não domina sobre o equilíbrio e a ordem; a necessidade de equilíbrio não se impõe à custa das necessidades de vinculação e ordem; e a demanda de ordem também tem em consideração a necessidade de vinculação e equilíbrio. Portanto, aquele que segue demais uma necessidade ficará em contradição com a outra. A inocência em excesso levará à culpa. Portanto, não existe a inocência pura.
Entretanto, a consciência pessoal somente serve os relacionamentos dentro de um grupo limitado, especialmente os relacionamentos dentro da família. Para garantir os relacionamentos dentro desse grupo, o delimitará diante de outros grupos. Isto é, somente desenvolverá seu efeito de enlace dentro desse grupo. Entre os diferentes grupos terá efeito separador. As guerras mostram as terríveis consequências quando tomamos como diretriz, além desse estreito âmbito. Quase todas se desenvolvem, com boa consciência, a serviço do próprio grupo. A consciência pessoal, portanto, não é somente boa senão que também é má em algumas ocasiões, e aquele que a segue não somente é bom, senão que, muitas vezes, também é ruim. Já que esta consciência não somente é sábia, senão que também é cega.
Além da consciência pessoal (aquela da qual somos conscientes), também atua em cada pessoa uma consciência inconsciente, que nos utiliza com mais força do que a consciente. Em contraposição a esta, a que percebemos, somente deduzimos a consciência inconsciente dos efeitos que manifesta em um grupo, ao longo de várias gerações. O primeiro que chama à atenção é que esta consciência é coletiva. Isto é, que atua ao mesmo tempo em todos os membros de um grupo, e como se esse grupo fosse uma pessoa ampliada. Ou seja, que se com a consciência nos relacionamos conscientemente com outras pessoas e as vivenciamos como interlocutores, a consciência coletiva nos conduz conjuntamente, com os outros membros do grupo, de tal maneira que não conseguimos diferenciar-nos deles. Neste caso, são canceladas as diferenças conscientes.
Este consciência zela também pela pertença, o equilíbrio e a ordem, porém de um modo totalmente diferente de como é feito pela consciência pessoal. Neste último caso, trata-se das necessidades de pertença, equilíbrio e ordem do indivíduo. Entretanto, no caso da consciência coletiva será ao contrário. O sistema tem a necessidade de garantir a pertença de todos seus membros e de cuidar do equilíbrio e da desordem dentro desse sistema. Isso significa que o sistema toma seus membros ao seu serviço, inclusive contra suas necessidades pessoas (de pertença, equilíbrio e ordem), sempre que seja em benefício da sua necessidade coletiva (de pertença, equilíbrio e ordem). Por isso, esta consciência somente é justa desde o ponto de vista do coletivo, porém, frequentemente, injusta para algum ou vários dos seus membros individuais. Comparada com a consciência pessoal, a consciência coletiva é arcaica e, devido a isso, possui uma força incomparavelmente maior.
Na medida em que possamos comprovar os efeitos da consciência coletiva (quem está possuído e dirigido por ela e quem permanece fora da sua influência), poderemos determinar com relativa exatidão seus limites. Resumindo, podemos dizer que esta consciência relaciona os próximos membros de um sistema:
Além disto, recentemente veio à tona que todas as vítimas de um membro da família pertencem ao sistema (por exemplo, aqueles que foram mortos por um dos seus integrantes). Inversamente, os criminais pertencem, além do mais, ao sistema das suas vítimas. Isto se manifesta quando, nas famílias das vítimas, muitas vezes um dos seus membros deve representar os criminosos, e nas famílias dos criminosos, às vezes, um dos seus membros representa as vítimas.
Longe da influência e do âmbito desta consciência ficam, portanto, os tios e as tias que não são de sangue, os primos e as primas.
A pertença coletiva mantém um sistema unido, porque zela para que não se perda nenhum dos seus membros. Zela, portanto, para que seus integrantes estejam completos, e por isso trata todos de forma equivalente. Contrariamente da consciência pessoal, não permite a diferenciação do bem (no sentido de maior direito de pertença) nem do mal (no sentido de menor direito de pertença), e evidentemente não pode nem pensar na perda de pertença. A exclusão de um membro é uma culpa coletiva, pelo qual se pedem explicações ao sistema, como sistema em si, independentemente da culpa ou da inocência pessoal dos seus membros singulares.
Isso significa que toda exclusão de um membro conduzirá a que esta consciência procure um substituto do membro excluído dentro do sistema, de modo que outro deve representá-lo sem ser consciente disso.
A representação inconsciente de membros excluídos leva a que seus representantes repitam os destinos daqueles e tentem impor suas exigências. Isso conduz ao fenómeno do duplo deslocamento. Em primeiro lugar, ao deslocamento no sujeito, que acontece quando uma pessoa assume como própria uma exigência alheia. Em segundo lugar, ao deslocamento no objeto. Isto é, estas exigências se dirigem para outra pessoa para a qual estavam dirigidas originariamente; ou seja: para uma pessoa que não tem nada a ver com isso e que, portanto, tampouco pode satisfazer ditas exigências. O fato de que esta representação inconsciente meramente repita os destinos dos excluídos, sem originar sua reincorporação nem a satisfação das suas exigências, demostra que a consciência coletiva é cega.
Um membro do sistema será excluído por:
Por tudo isto, fica evidenciado que a consciência coletiva não está submetida às regras da consciência pessoal. Por esse motivo, qualquer um pode infringi-la sem nenhum tipo de conflito e sentir-se bem, apesar disso, achando que tem razão. Não obstante, isto não lhe permite fugir das sanções da consciência coletiva. A contradição entre as duas consciências é a responsável de que alguém realize, sem cogitar se está bem ou mal, exatamente o que trará uma desgraça, um fracasso e um colapso para ele e seus descendentes. Portanto, o que for inocência conforme a consciência pessoal, frequentemente, será culpa diante da consciência coletiva, e vice-versa.
Se observarmos esta oposição entre a consciência pessoal e a coletiva, à luz das tragédias gregas, observaremos que o herói representa a consciência pessoal e os deuses a coletiva.
Também a necessidade de compensação se mostra de outra maneira na consciência coletiva. No seu caso, não se manifesta, como na consciência consciente, pelo equilíbrio entre duas pessoas, senão pelo equilíbrio dentro do sistema.
A consciência coletiva não tolerará que, dentro do sistema, alguém tenha uma vantagem sobre os outros membros sem que outra pessoa a compense posteriormente com uma perda.
A exclusão de uma pessoa é compensada com o fato de que outra pessoa repita seu destino, e se um membro não assumir por si próprio as consequências da sua conduta, sob a pressão da consciência coletiva, outro assumirá posteriormente esta culpa e suas consequências, e o fará sem ser consciente disso.
Este processo é descrito pelo profeta Jeremias com a frase: “Os pais comeram uvas azedas e os filhos sentiram o arrepio” (Jer. 31.29). E em Êxodo fala-se de Deus: “Sou um Deus ciumento que castigo a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me zangam” (Ex. 20.5).
Não obstante, os membros do sistema também são responsáveis pessoalmente pela consciência coletiva se infringirem a ordem cuja observação exige. Em relação à pertença, todos têm o mesmo direito para a consciência coletiva, porém em relação ao equilíbrio e à hierarquia, não. Já que, mesmo que a consciência coletiva não diferencie entre o bom e o mal referente à pertença, sim diferencia entre ambos os extremos, pelo qual respeita a ordem.
A ordem impõe poderosamente esta consciência aos membros anteriores do sistema, estes têm uma preferência sobre aqueles que entraram nele mais tarde. Por esse motivo, os pais têm prioridade sobre os filhos, os avôs sobre os pais e os netos, os bisavôs sobre os avôs, pais e bisnetos, as antigas parceiras dos pais e dos avôs sobre as parceiras posteriores e os primogénitos sobre os segundos, para destacar somente os exemplos mais importantes.
Isto significa que os membros anteriores têm prioridade sobre os posteriores em rango. Os anteriores são maiores, os posteriores menores. Os anteriores são mais importantes, os posteriores menos. Por isso também se sacrifica sem escrúpulos os posteriores pelos anteriores: por exemplo, quando os posteriores devem representar os anteriores excluídos, sem considerar seu próprio bem-estar nem seus próprios desejos ou exigências, ou quando os posteriores devem expiar a culpa dos anteriores, apesar de serem pessoalmente inocentes. Isto é, os posteriores são os encarregados da responsabilidade familiar, e por isso são sacrificados sem escrúpulo pelo bem dos anteriores, como demonstra em sua expressão mais cruel “o ritual do sacrifício infantil”.
Esta ordem da preferência dos anteriores sobre os posteriores exige, ao mesmo tempo, que estes não interfiram nos assuntos daqueles. O que significa, especialmente, que não devem comportar-se como se fossem mais velhos, mais eficazes, ou mais importantes do que os anteriores, ou como se devessem ou pudessem assumir no lugar dos anteriores algo que deve continuar sob a responsabilidade desses. Por isso, os filhos não podem comportar-se diante dos seus pais como se fossem mais velhos e os pais mais jovens; por exemplo, se tentarem representar diante dos pais um parceiro adulto. Os posteriores tampouco podem, nem tem permissão de assumir pelos anteriores seu destino ou culpa, nem as consequências dessa culpa. Toda tentativa nesta direção fracassará.
Mesmo que a consciência coletiva utilize os membros posteriores para uma reparação interna do sistema, impedirá, ao mesmo tempo, o sucesso desta tentativa e a castigará com o fracasso. Porque com ele os posteriores infringiram a ordem coletiva que lhes proíbe estas tentativas, já que elas são uma intromissão nos assuntos dos anteriores. A consciência coletiva, portanto, obriga os posteriores a algo que lhes exige. Isto é, não somente existe a contradição entre a consciência pessoal e a coletiva, a qual nos torna culpados ineludivelmente, senão que também dentro da consciência coletiva vivenciaremos contradições deste tipo, inevitavelmente. Lá será onde encontremos os modelos básicos de todos os vínculos duplos.